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Mostrando postagens de setembro, 2013

Depois de tudo

O pai que não foi

         Uma chuva fina escurecia o céu invernal. Desperto às 6 horas de um domingo, Gaspar, deitado na cama ao lado da esposa, tentava recordar as imagens do recente sonho que tivera. Quem afinal era o homem que lhe dissera para entrar, mas que do mesmo jeito impassível lhe ordenara para sair? Embora buscasse um sentido para essa vivência onírica, não conseguia ligar os pontos e formar uma imagem explicativa. O trajeto na estrada em que todos os transeuntes, exceto ele, caminhavam de costas, corpos que não tinham braços, mas um olho na nuca, também não encontrava qualquer entendimento em sua racionalidade.           Vestido com o pijama, os chinelos e uma capa de chuva, Gaspar foi até a frente de sua casa para buscar o jornal arremessado pelo entregador. O plástico que envolvia o periódico manteve as suas folhas secas, ao contrário dos pés dele, que deixaram pegadas molhadas no tapete da entrada da residência. Enquanto, na cozinha, preparava um café passado na cafe

O roubo

"Sinisdestra": 15

"Sinisdestra" é um livro de contos interligados por um tema comum a todos. Você encontra as partes anteriores nas postagens antecedentes. 15. O amplo estúdio em que a banda ensaiava agora era uma memória dolorida do passado deles, de um tempo em que podiam lotar todas as casas de espetáculos da região, quando o alto cachê os fazia esquecer a comum história de uma infância pobre. Terminada a guerra, a população procurava diversão novamente, mas dessa vez já não podia pagar caro pelas atrações, com isso os artistas medíocres consolidavam as suas reputações de entretenidores, o que, por ora, bastava para amainar o sofrimento das pessoas. Satisfeito por não ter perdido nenhum integrante do grupo durante os conflitos, Miguel Boafé, saxofonista e líder da banda, se reunia com seus colegas mais uma vez nos fundos de um cinema abandonado, onde o proprietário cobrava uma taxa de baixo custo para que pudessem ensaiar. Sonhando com a volta ao sucesso de outrora, Miguel Boafé fazi

Coelho e Guerra

         Depois de dois dias chuvosos, as nuvens cinzentas ainda pairavam sobre a cidade. Uma trégua do gotejar, no entanto, dava uma pausa ao desfile de sombrinhas e guarda-chuvas que estava se tornando costumeiro. Em um pequeno apartamento, bem localizado em uma rua transversal que corta a principal, o sistema de calefação parara de funcionar novamente. O silêncio mortal que tomou conta do equipamento fez com que ele se levantasse da cadeira posta em frente ao computador. Com o punho fechado, uma pancada, duas, três, mas a solução primária não resolveu o problema. Nem mesmo os xingamentos que arrepiariam os pelos de um bravo foram suficientes para fazer o aquecimento tornar a funcionar. Talvez o aparelho não tenha entendido coisa alguma dos termos de baixo calão que a ele foram dirigidos, pois a inscrição made in China já faria supor que o português não era bem compreendido. Na parede da sala, oposta a onde estava o monitor do computador, um relógio analógico com um term

Um poema em cada árvore