Do chão, caminhando rente ao muro de pedras sobrepostas iluminado pelos raios solares que aqueciam aquela manhã de outono, o gato estudava a melhor passagem entre a grade de ferro fixada sobre a divisa a separar a casa do filósofo da residência vizinha, que permanecia fechada há dois anos, ostentando uma desbotada placa de vende-se à frente. Comprimindo os membros inferiores contra o chão, agitando o traseiro, mantendo a cauda esticada como se servisse de leme, o felino foi distraído por uma formiga alada que executou um voo rasante sobre a sua cabeça. Como um boxeador, o gato desferiu golpes no ar, porém o inseto transgrediu a lei da gravidade e alçou alturas que o predador não podia alcançar. Concentrado, mais uma vez, no muro que tencionava ultrapassar, com um só salto, o felino se pôs sobre o muro e facilmente escapou entre as barras de ferro, desfilando a sua compleição elegante e esguia, em cuja natureza, forma mais bela não há. Seguindo em trajetória retilíne...